terça-feira, 24 de maio de 2011

Vazio Silencioso



Pude sentir o vazio e o silêncio
O vazio de quando o chão se abre em fendas
E se desfaz diante dos olhos e abaixo dos pés
Quando tudo faz-se queda interminável
Pude sentir o silêncio de perguntas respondidas
E das verdades que, quisera eu, fossem mentiras
Pude sentir o vazio crescer e me tomar o corpo
Todos os membros, todas as veias
Pude sentir o silêncio emudecer meu coração
Parar minha respiração
E por instantes não senti nada, amortecida e sedada.
Lentamente o vazio encheu-se de sangue
E do silêncio fez-se o grito e dele fez-se o choro
Pude sentir o sangue e o choro.
E sabia que, dali em diante, era só o que sentiria.


Marília M.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Gotinhas...


O dia era frio. A chuva tamborilava lá fora e cobria tudo o que visse.
Olhava da janela o espetáculo, meu hálito quente escrevia palavras no vidro frio.
Um sorriso.
Palavras com cor de morango maduro, cor de fim de tarde, cor de pele, coloridas.
De palavras fazia-se a chuva. O céu um grande livro cinza retorcido.
Saí brincar, ninguém se atreve. Molhei a alma e encharquei-me de palavras.
Duras, lisas, pesadas, salgadas, suaves, leves, delicadas, doces, de todo tipo...
Guardei todas, não as proferi. O silêncio as mantém sagradas.
Permito-me apenas depositá-las cuidadosamente no papel, misturando, como bem entender, cores, sabores e texturas.
Um pouco de chuva sobre o papel furta-cor.
Gostoso de olhar...

Marília M.