quinta-feira, 22 de abril de 2010

O ser que sou




Que contradição...vinte e quatro horas por dia somos bombardeados pelos mais diversos apelos ao consumo, a geração fast-food, as prateleiras de chamativas embalagens do que quer que seja, implorando aos olhos inocentes que as comprem aos montes, levem consigo e sem elas não vivam mais. E...ao mesmo tempo, quantas academias você vê no seu caminho de casa? Quantas vezes escuta que está acima/abaixo do peso, que precisa fazer exercicios. E essa pele?! Não cuida da alimentação? Andou comendo besteira. Segunda é dia de começar o regime...
Alguém mais vê que tem alguma coisa errada aí?
Obviamente não me oponho a uma boa alimentação, a saúde e aos cuidados próprios.

Me oponho à prisão.

O corpo cultuado como objeto único de preocupação, como seu cartão de visitas e como espelho do seu caráter, como sua mente, seus sentimentos, seu interior...seu corpo como você. Você é só e somente só o seu corpo? Pois eu não. É parte de mim, como todas as outras partes que possuo. Se perder um braço, continuarei sendo eu. Se minhas pernas paralisarem ainda serei eu. Mesmo imóvel, sou eu. Eu sou mais que isso. Mais que só o corpo que entra em contato com o mundo. Passo, ultrapasso.
"Eu faço só quatro horas de academia por dia!" Por favor, você pode me explicar..por que?! Por que é que você, com um corpo normal, gasta quatro horas do seu dia, todos os dias da semana...fazendo tours por aqueles aparelhos? Diga-me se são milagrosos...são? São transformadores de personalidade? Eles podem te transformar em alguém menos futil, mais crítico? Não? Então eu não entendi...
Essa corrida desenfreada atrás da ilusão da diferenciação. Isso, ilusão. Nunca teve a horrível sensação de estar andando em meio a pessoas basicamente...iguais? Eu já. E foi assustador...Padrão. Esconde-se as cicatrizes, o cabelo, a cor dos olhos, o tamanho do busto. Pessoas fabricadas.
Eu sou minhas cicatrizes no joelho dos tempos de criança. Sou a manchinha verde no meu braço direito que todos acham muito estranho. Sou meus 1,63 de altura e meus olhos castanhos. Mas eu sou mais que isso...Também sou as lágrimas que chorei por todos os tombos e os sorrisos que dei por todos os carinhos. Sou as cartas que escrevi, os sentimentos que falei e também os que escondi. As críticas e os elogios fazem parte de mim. Assim como meus amigos, meus pais, minha família, meus amores. Eu sou tudo o que me fez e me faz. O que o passado me tornou e a minha disposição para mudar. Eu sou meus medos, minhas conquistas, minhas angusitas e alegrias.
Eu sou mais, muito mais do que seus olhos podem ver e do que as palavras podem descrever.

Marília M.

Foi sim um texto de desabafo, inspirado pelo texto "Da Ascese à Bio-Ascese" de Francisco Ortega. São também desse texto, as citações seguintes:

"Força, rigidez, juventudo, longevidade, saúde e beleza são os novos critérios que avaliam o valor da pessoa e condicionam suas ações."

"O corpo torna-se o lugar da moral, é seu fundamento último e matriz da identidade pessoal."

Recomendo imensamente a leitura!

3 comentários:

Gui disse...

Você é a Mah =D

Rafitcha disse...

Arrebentou mahzinha..seu texto coloca a gente a pensar e mto sobre os valores da sociedade atual..junto de tu tb me oponho a prisão..
bjãooo

~ N.O.iT.e ~ ;-) disse...

Perfeito!!!
=)
E super identifiquei-me!