sábado, 30 de maio de 2009

Gente

Todos os dias eu subo no ônibus.
Todos os dias passo pelo motorista, passo pelo cobrador, passo por pessoas.
Sem quase olhar nos olhos, sem quase dirigir a palavra, sem quase...
Sento ali no lugar vago, qualquer um, não me importo.
E quem se importa?

O que o outro do seu lado pensa?
Quem ele é?
O que faz?
De onde vem?
Pra onde vai?
O que é que sente?
Com o que será que sonha?
Quais seus segredos?
Será que pensa, desse mesmo jeito que eu, no que será que os outros estão pensando?

Um dia ofereci uma bala à um vizinho de banco... me olharam feio.
Olhares que me acusavam de um crime que nem eu sei qual foi.
Me acusavam de tentar diminuir o tédio de uma viagem longa, cheia de buzinas, carros, semáforos e gente apressada.
Me acusavam só por me aproximar, fazer contato, dar um sorriso, ser humana.

Acho que tem gente esquecendo como faz pra ser gente.
Gente antes do trabalho, gente antes da idade, gente antes do gênero, gente antes da profissão, gente antes de tudo.
E assim desço do ônibus. Sentindo falta de ser gente.

Se me encontrar por aí, no meio dessa vida sem vida, diga oi.
Eu te conto como foi meu dia, você me conta como foi o seu, falamos de livros, de filmes, de música, de poesia, de como foi chata a sua semana!
E então continuaremos a vida, agora um pouco mais viva, sentindo enfim, que ainda tem gente por aí.

Marília M.

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